caminhavam pela rua, tentando ver tudo ao mesmo tempo: as lojas, as coisas as portas, as pessoas fazendo compras.” – “Harry Potter e a Pedra Filosofal”.

- Turistas enchem as ruas de Hogsmeade, no Universal Orlando Resort, na Flórida
O Mundo Mágico faz parte das Islands of Adventure (Ilhas da Aventura), um dos dois parques temáticos do Universal resort (diferente de alguns relatos na Internet, ele não exigirá um ingresso separado; os mesmos US$ 79 que permitem a entrada no Jurassic Park River Adventure e no Caro-Seuss-el também dará acesso ao Mundo Mágico). Mas a nova área é decididamente diferente daquelas ao seu redor.
Ele é a antítese da maioria das atrações de parques temáticos, onde a ideia é correr de uma atração para a próxima o mais rápido possível. Há de fato apenas três passeios nos oito hectares do Mundo Mágico, e dois deles – tomando emprestado uma imagem de outra fantasia – são as meio-irmãs feias da Jornada Proibida. Funcionários fantasiados estavam mais ou menos implorando para as pessoas embarcarem em seus passeios no fim de semana que eu estava lá.
Mas é igualmente verdadeiro que só há uma única verdadeira atração no Mundo Mágico, porque os passeios não são realmente o que interessa; é o trabalho de arte. Esta atração foi criada tendo os obsessivos em mente, o tipo de pessoa que mais ou menos decorou os livros de Rowling, e isso transparece em todo tipo de detalhes. O desgaste da pedra para fazê-la parecer indefinivelmente antiga. A forma como a neve se encontra nos telhados, como se estivesse prestes a derreter.
Até mesmo coisas um tanto escatológicas não foram desprezadas. Não apenas há corujas que parecem vivas nas vigas, como também há caca de coruja que parece real na madeira abaixo delas. Murta que Geme, uma fantasma dos livros, pode ser ouvida no banheiro feminino. Pelo menos foi o que me disseram. Ela certamente pode ser ouvida no banheiro masculino. E sim, é assustador.
São tantos os detalhes que rapidamente fica aparente o que está ausente no Mundo Mágico: um posto de primeiros socorros munido de um ortopedista especializado em danos causados por crianças impacientes de cinco anos, puxando os braços dos pais. Com a exceção da loja de doces Dedosdemel e de um quadro interpretado por um ator na Olivaras (uma criança sortuda é escolhida por uma vara, assim como Harry em “A Pedra Filosofal”), este não é o tipo de lugar para uma criança com déficit de atenção.
“Espere um minuto, Joey; mamãe está admirando a forma como as pedras neste castelo lembram os castelos de verdade na Europa.”
“Buááá!”
“Fique quieto e vá encontrar o Caro-Seuss-el. Eu vou buscar você daqui cinco horas.”
“De uma vez por todas, Harry, você me dá sua palavra de que fará tudo que puder para não me deixar parar de beber?” –“Harry Potter e o Enigma do Príncipe”
O Mundo Mágico carrega o peso da responsabilidade sobre seus ombros. Assim como os filmes de Potter deram aos leitores a interpretação oficial de como de fato pareciam as cenas que estavam imaginando, o Mundo Mágico é a interpretação oficial, abençoada por Rowling, de como seria a sensação de estar em uma daquelas cenas. Assim, não há vendedores ambulantes nas ruas que não estariam nas ruas de Hogsmeade; algodão-doce e mãos gigantes de espuma não estão à vista. Mas não se engane: este lugar foi construído para o comércio.
Os cínicos que mergulharam nos livros de Potter podem se perguntar por que os bruxos tão espertos de Hogwarts não possuem eletricidade, mas há uma conveniência moderna que eles possuem, pelo menos aqui: Hogsmeade possui um estande de caixa eletrônico pronto para servir aqueles que ficarem sem dinheiro. O que muitos ficarão, porque a loja de varinhas, a loja de doces e outros estabelecimentos têm muitos produtos para vender. Na Dedosdemel naquele sábado do Memorial Day, a prateleira de sapos de chocolate –US$ 9,95 cada– ficou vazia em uma hora (os sapos de menta eram US$ 3 mais baratos, mas menos populares).
Os fãs, é claro, não partirão sem experimentar duas bebidas antes de ficção, agora reais, inventadas nos livros e que ganharam vida aqui. Alerta de heresia: a cerveja amanteigada (US$ 8,50 em uma caneca souvenir; US$ 9,50 para a variedade congelada), apesar de melhor do que seria se você despejasse manteiga derretida em uma Budweiser, é indistinguível de um refrigerante de baunilha de qualidade. O suco de abóbora (em uma garrafa bonitinha, com uma abóbora no topo) é bem mais interessante, talvez porque o conteúdo de abóbora de fato pareça mínimo – parece mais uma sidra de maçã misturada com um pouquinho de abóbora. Para os adultos, há uma ótima cerveja de verdade no bar Cabeça de Javali.
Os visitantes alucinados daquela manhã de sábado pelo menos acertaram em uma coisa: é melhor não ter uma mistura volátil de cerveja amanteigada, suco de abóbora e sapos de chocolate em seu estômago ao embarcar nos quatro minutos frenéticos, desorientadores, que culminam a Jornada Proibida.
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